Tem gente que pensa que a língua portuguesa é coisa estática, reduzida às páginas nunca abertas de uma gramática na prateleira da biblioteca a que ninguém vai. Besteira.
Toda vez que você abre a boca para dizer alguma coisa está recriando a língua. E você pode ser muito inventivo: embutir nas palavras novos significados relacionados a um contexto diferente ou até mesmo criar uma palavra, formada ou não por outras já existentes. Nós chamamos isso de neologismo, mas você nem precisa chamá-lo de nada para que ele exista.
Guimarães Rosa, um grande inventor de palavra, talvez ficasse atônito com o neologismo utilizado para nomear o mascote da Copa do Mundo no Brasil. Os brasileiros podiam escolher entre três nomes para o simpático tatu-bola que representará o País: Zuzeco, combinação entre “azul” e “ecologia”; Amijubi, vindo de “amizade” e “júbilo”; e Fuleco, o escolhido, cuja formação, eles juram, vem de “futebol” e “ecologia”.
A composição, como qualquer já inventada, não deixa de ser legítima. O problema foi o resultado. Antes de ler a explicação dos criadores dela, por exemplo, eu tive que fazer o mais lógico a um falante da língua: tirar o significado de algo que eu já conhecia. Foi assim que cheguei à análise dos morfemas – a menor unidade linguística com significado, usada justamente para formar palavras – que teria me impedido sequer de sugerir este nome para qualquer coisa, ainda mais para algo que representaria uma nação.
As acepções foram retiradas do Houaiss.
Fuleiro
adjetivo e substantivo masculino
1 que ou aquele que age irresponsavelmente, sem seriedade; que ou quem não se mostra confiável
2 que ou o que não tem valor, que ou o que é medíocre, reles
3 que ou o que denota falta de gosto, falta de refinamento, que ou o que é simplório; cafona
-eco
sufixo
diminutivo, por vezes pejorativo, masculino, em palavras como amoreco, jornaleco
Não sei o que vocês acham, mas algo que mistura cafona e um sufixo pejorativo não é exatamente a melhor escolha para representar positivamente alguém.